TUGULÂNDIA – uma cretinocracia

este parte aquele parte ...

Adequado ao que sinto ao pensar em todos os que me deixaram nestas últimas semanas. Também a vós devo aquilo que sou.
Obrigado e até sempre.

Este vaise i aquel vaise
 
Este vaise i aquel vaise,
e todos, todos se van,
Galicia, sin homes quedas
que te poidan traballar.
Tés, en cambio, orfos e orfas
e campos de soledad,
e pais que non teñen fillos
e fillos que non tén pais.
E t’es corazóns que sufren
Longas ausencias mortás,
viudas de vivos e mortos
que ninguén consolará.

Olvidémo-los mortos!

Rosalia de Castro (1837-1885)
 

 
Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão
Tens em troca orfãos e orfãs
e campos de solidão
e mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.
Corações que tens e sofrem
longas horas mortais
viúvas de vivos-mortos
que ninguém consolará

(Tradução de José Nisa)

Quando eu tinha seis anos havia DEUS, PATRIA e AUTORIDADE.
Conceitos que não se questionavam.
Passados quase quarenta anos tenho uma filha de seis anos que questiona.
Porque é que aquele polícia tem aquele ‘pau’ no cinto?
Imaginem que argumentação pode defender o facto de um fuzileiro (que é um militar) estar a ‘policiar’ a Berlenga de cacete à cintura.
Para os distraídos passo a informar que o arquipélago das Berlengas está situado na costa ocidental da Tugulândia. Não tem carros, mas tem dois motocultivadores com reboque; tem dois elevadore sendo um sobre carris e outro sobre rodas. Tem dois operadores económicos instalados e vários operadores de transportes, incluindo os famosos ‘voir les grotes’.
Quando recentemente por lá passei uns dias, havia seguramente menos de 150 pessoas.
Para cidadãos estrangeiros (talvez uns 30) passa a imagem terceiro-mundista dum militar a policiar civis.
Foi-me também facilitada a informação de que tudo quanto mexe (e não mexe) na Berlenga é tutelado por quatro ministérios diferentes.

Uma semana depois ao visitar a semana medieval de Óbidos a minha filha volta a perguntar.
Porque é que aquele polícia tem aquilo nas botas?
Como se explica que não faz sentido um GNR (que por acaso também é um militar) andar no meio de turistas de botas de montar e esporas?
Em vão inspeccionei o uniforme na esperança de que o ‘nosso’ fosse de cavalaria.
Ainda podia justificar (ou talvez não) se fosse ‘cagança’ de cavaleiro...

Vá lá Senhor Ministro.
Modernizar as Forças Armadas não é comprar equipamentos hi-tech para os quais, depois, não temos dinheiro para operar ao longo do ano.
Já nem a Grécia tem militares nos portos.

Para quem não conhecede o non-sense berlengueiro, tem neste site muito para rir.
Garanto que nada tenho a ver com a autoria...

Nunca (nem nos dias mais negros do meu Humano-Realismo) poderia imaginar que a Tugulândia chegaria ao estado presente.
Quem me conhece sabe que sou dado a ter 'visões do futuro', sobretudo a analisar os animais políticos e a conjecturar sobre as suas 'carreiras'. 
Felizmente falho muito.
Nunca esquecerei que um dia em Bruxelas disse ao meu amigo ECM, a propósito dum tal Durão Barroso promovido de secretário de estado a ministro:  'ainda um dia vais ter que aturar este MRPP como primeiro'. 
Claro que fui gozado.
Ao contrário da minha limitado racionalidade, que é compensada por elevada dose de treta avulsa, o ECM é um verdadeiro intelectual.
Tal como não fazia sentido, nesse tempo, o José Manuel chegar um dia a ser primeiro-ministro, muito menos lhe passaria pela cabeça, ao pobre ECM, alguma vez vir a ter o homem como seu 'patrão' em Bruxelas.
Tal como o amor 'a política tem razões que a razão desconhece...'
Tudo isto para dizer que este país chegou ao ponto de ter um ministro que foi meu 'aluno'  e outro que foi meu 'assalariado'.
 
Acreditem!  Isto está mesmo mal.
 
Bjinhos & abraços 

CANÇÃO MEIO ACORDADA

Laranja! Grita o pregoeiro.
Que alto no ar suspensa!
Lua de ouro entre o nevoeiro
Do sono que se esgarçou.
Laranja! Grita o pregoeiro.
Laranja que salta e voa.
Laranja que vais rolando
Contra o cristal da manhã!
Mas o cristal da manhã
Fica além dos horizontes ...
Tantos montes... tantas pontes...
(De frio soluçam as fontes...)
Porém fiquei, não sei como,
Sob os arcos da manhã.
(Os gatos moles do sono
Rolam laranjas de lã.)


Mario Quintana (1906-1994)

Isto não é um país, isto é um circo ...